Como os amazônicos salvaram um ‘Exterminador do Futuro’ do mundo dos peixes
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Como os amazônicos salvaram um ‘Exterminador do Futuro’ do mundo dos peixes

Jun 27, 2023

Nota do Editor: Call to Earth é uma iniciativa da CNN em parceria com a Rolex. João Campos-Silva é laureado Rolex.

No que diz respeito aos peixes, o pirarucu é extraordinário. Encontrado na bacia do rio Amazonas, é um dos maiores peixes de água doce do mundo, capaz de atingir três metros de comprimento e pesar 200 quilos (440 libras).

Ele respira ar, permitindo-lhe viver em água com pouco oxigênio e sobreviver um dia completamente fora da água. Come peixes, mas também pássaros, lagartos e pequenos mamíferos, esmagando suas presas com a língua coberta de dentes.

Esta obra-prima evolucionária tem um truque ainda maior: suas escamas, que os pesquisadores compararam a um colete à prova de balas, protegem-na dos ataques de piranhas. Resistentes, mas flexíveis, suas propriedades atraíram até a atenção da Força Aérea dos EUA.

O pirarucu é um Exterminador do reino animal, mas tem uma falha fatal: é bom comer. Chamado localmente de pirarucu, também é conhecido como “o bacalhau da Amazônia”, em virtude de sua polpa branca e firme e de ossos mínimos. O peixe é uma importante fonte de alimento para as comunidades locais, mas também apreciado entre os clientes mais exigentes de algumas das maiores cidades do Brasil.

A sobrepesca levou ao declínio populacional e, na década de 1990, foram tomadas medidas para proibir a pesca do pirarucu. No entanto, a pesca ilegal continuou, fazendo com que a espécie desaparecesse de partes da Amazônia. Mas graças a duas décadas de trabalho de conservacionistas e comunidades locais, esse já não é o caso.

Além do mais, o pirarucu não desapareceu dos pratos. Na verdade, o consumo é crucial para o modelo de conservação, o que significa que os brasileiros podem ter o seu peixe e comê-lo.

Hoje, a pesca do pirarucu é proibida no Brasil, a menos que seja em áreas com acordos de manejo comunitário, explica João Campos-Silva, ecologista brasileiro. Campos-Silva faz parte do Institutio Juruá, uma das várias organizações que trabalham com comunidades e pescadores em programas de base para cultivar de forma sustentável e, em última instância, reviver a espécie.

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O pirarucu passa a estação chuvosa navegando pela mata inundada onde se reproduz, retornando aos lagos quando o nível das águas cai. Com foco no rio Juruá e nos lagos adjacentes no estado do Amazonas, no norte do Brasil, um programa implementado pelo Instituto Juruá há mais de uma década introduziu um censo populacional anual e calcula cotas de colheita sustentável para cada lago para o ano seguinte (não mais que 30% dos peixes adultos , de acordo com as diretrizes do governo).

As comunidades locais protegem as entradas dos lagos durante todo o ano para afastar os pescadores ilegais vindos de fora da área protegida. A colheita só é permitida entre agosto e novembro, e qualquer peixe com menos de 1,55 metros (5 pés e 1 polegada) de comprimento é devolvido à água.

Francisco das Chagas Melo de Araújo, também conhecido como Seu Preto, é um líder comunitário de Xibauazinho, comunidade no estado do Amazonas e um dos primeiros locais a iniciar o programa. “Antes do manejo do pirarucu… não tínhamos direito de cuidar desses lagos. Os pescadores comerciais praticavam a pesca predatória, onde colhiam o máximo que podiam”, explica. “Nossos lagos estavam severamente esgotados e sobrepescados e o pirarucu era praticamente inexistente.”

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Após 11 anos de gestão, ele afirma que existem mais de 4 mil pirarucus nos lagos da comunidade.

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A pesquisa de Campos-Silva nos lagos ao redor do rio Juruá no mesmo período constatou que a população de pirarucu mais que quadruplicou. À medida que a população cresceu, o pirarucu migrou para novos lagos, ampliando sua distribuição. Ele estima que existam atualmente cerca de 330 mil pirarucus vivendo em 1.358 lagos em 35 áreas manejadas, com mais de 400 comunidades envolvidas na sua gestão.